terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Hemeroteca


Estiquei os dedos, respirei bem fundo e fechei os olhos. Tentei buscar pessoas e lugares para escrever algo onde eu pudesse viajar diante do meu teclado. Não veio nada para inspirar. Olhei para um lado vi um Mini Aurélio 7º Edição.

E a palavra descoberta foi Hemeroteca, seção da Biblioteca onde se encontra jornais e revistas.

E foi ali, na Hemeroteca que tudo começou.

Era um dia frio, tão frio que o beijo vinha com gosto do picolé de limão siciliano,  gelado e crítico para caluniar a boca de pele rachada como o chão daquela terra fria. Em Marseille há muita neve por essas datas próximas a dezembro. “Meu tempo é quando” dizia uma coluna no jornal que Pedro lia.  Pedro, homem calado que gosta de café amargo. No frio gostava de visitar a Hemeroteca da cidade que fica próxima a padaria Timide, que significa dengosa em português. Ninguém resistia, nem ele a um bom crossaint acompanhado de um café Lavazza. Eram quase seis da tarde quando entrou no bistrô Le Claire anexo a Hemeroteca  junto à luz sépia dos arredores franceses, uma moça com límpidos e questionadores olhos. Sentou-se na beirada do aquecedor esperando que ali pudesse ter um pouco de paz, ela estava cansada, acabava de vir de Toscana e por lá as coisas andavam agitadas. Perder um tio pode ser muito ruim quando ele era seu pai e sua mãe. O café estava lotado, mas para ela não havia ninguém. O som dessa tarde era Tumbled Sea, mas a única canção que ela conseguia escutar era o encontro da água molhada com a água nevada. A cidade estava branca para seu luto.

Pedro pediu ao garçom que levasse um biscoito de manteiga e um  copo de leite para moça, ela agradeceu de longe com uma mão tão suave que parecia um carinho, recusou e continuou a olhar a chuva cantando lá fora. Era possível sentir e ouvir um turista brigando com seu próprio idioma, uma criança chorando pelo colo da mãe, um cozinheiro que se declarava para a namorada pelo telefone, alguém no banheiro fazendo um reclame, o dono do bistrô contando dinheiro e a bela moça assistindo a chuva cantar.

Enquanto Pedro escrevia aqui no Acre seu fim de tarde na França.

Nenhum comentário:

Postar um comentário