sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Desatino

Até escuto uns sinais de chuva molhada lá fora. Nada que seja um repente. Só água caindo na água do rio. Pensei até em escrever, mas minhas mãos andam  molhadas demais para  isso. Por falar em caminhar com as mãos, ultimamente  pouco tenho viajado em pensamento.

Será por falta de tempo?

Ou por falta de vento? 


Pires

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Com ar no céu





Eu pensei. Minto. Imaginei no tardar das asas do céu encontrar apenas um motivo para voltar a terra. É tão bom amar, sentir saudade, desligar o celular e voar. Inclinar todo o corpo para olhar pela janela e ver como o mundo é grande. Então às vezes é bom sentir tudo tremer e temer que vida se acabe ali. Voar é algo tão incrível que todas as vezes que voou tenho vontade de escrever, sem cena ou drama. Apenas o que sinto. Querendo voltar a voar continuo escrevendo sem perceber que ainda nem decolamos. E eu já sinto saudade do céu.


Pires no ar com céu.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Gosto sem gosto.

Cigarro aceso na boca dos outros, sandália nas mãos do desconhecido e goles de água que arde. Foi assim que sai para ver o sol de noite.  Eram quase duas da manhã e ainda havia muita noite naquelas horas. Era preciso dançar um pouco, esquecer de tudo e lembrar que o amanhã nasceu ontem. Havia gente sorrindo e eu assistia a vida passando como se fosse um filme sem legenda. Alguns riam dos outro  e outros de si.  Já fui mais vagabundo e tenho apreço em recordar, me rendem boas histórias na mesa de bar, só lá. Nunca torci por nenhum time, pra falar verdade nem gosto de futebol, mas adoro ver o povo gritando alucinadamente por algo tão apaixonante para alguns. Afinal, torcer também é crer.

 Já trabalhei na cozinha de um restaurante e adorava imaginar o quê significava “aquele” momento para os clientes.  Um pedido de casamento, reconciliação, encontro de amigos, fechamento de negócios ou simplesmente encher o bucho. Lembro com saudade da manteiga francesa escorrendo na caçarola  e toda a correria que de forma alguma podia transpor a porta do salão. Trabalhei na noite por algum tempo, que eu me lembre foram 10 meses. Talvez o bastante para perder o gosto por ela, caso ela não tenha muito sabor.

E eu gosto de gosto.  


Pires

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Hemeroteca


Estiquei os dedos, respirei bem fundo e fechei os olhos. Tentei buscar pessoas e lugares para escrever algo onde eu pudesse viajar diante do meu teclado. Não veio nada para inspirar. Olhei para um lado vi um Mini Aurélio 7º Edição.

E a palavra descoberta foi Hemeroteca, seção da Biblioteca onde se encontra jornais e revistas.

E foi ali, na Hemeroteca que tudo começou.

Era um dia frio, tão frio que o beijo vinha com gosto do picolé de limão siciliano,  gelado e crítico para caluniar a boca de pele rachada como o chão daquela terra fria. Em Marseille há muita neve por essas datas próximas a dezembro. “Meu tempo é quando” dizia uma coluna no jornal que Pedro lia.  Pedro, homem calado que gosta de café amargo. No frio gostava de visitar a Hemeroteca da cidade que fica próxima a padaria Timide, que significa dengosa em português. Ninguém resistia, nem ele a um bom crossaint acompanhado de um café Lavazza. Eram quase seis da tarde quando entrou no bistrô Le Claire anexo a Hemeroteca  junto à luz sépia dos arredores franceses, uma moça com límpidos e questionadores olhos. Sentou-se na beirada do aquecedor esperando que ali pudesse ter um pouco de paz, ela estava cansada, acabava de vir de Toscana e por lá as coisas andavam agitadas. Perder um tio pode ser muito ruim quando ele era seu pai e sua mãe. O café estava lotado, mas para ela não havia ninguém. O som dessa tarde era Tumbled Sea, mas a única canção que ela conseguia escutar era o encontro da água molhada com a água nevada. A cidade estava branca para seu luto.

Pedro pediu ao garçom que levasse um biscoito de manteiga e um  copo de leite para moça, ela agradeceu de longe com uma mão tão suave que parecia um carinho, recusou e continuou a olhar a chuva cantando lá fora. Era possível sentir e ouvir um turista brigando com seu próprio idioma, uma criança chorando pelo colo da mãe, um cozinheiro que se declarava para a namorada pelo telefone, alguém no banheiro fazendo um reclame, o dono do bistrô contando dinheiro e a bela moça assistindo a chuva cantar.

Enquanto Pedro escrevia aqui no Acre seu fim de tarde na França.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Dia de vida.

Eu queria estar em uma praia ou talvez em uma colina que o vento soprasse forte. Para acompanhar tudo isso, um pão caseiro amassado com suor de gente. Manteiga boa e de bom tom. A música seria o beijo do vento nos grãos ou na mata. Queria ver o sol dormir e talvez dormir com ele. Tentar contar os pontos que brilham no céu e entender quantas eu vezes olhei tudo isso e não dei valor. Queria um balão sem gás, mas com muito abraço para mandar a quem tenho saudade. Pensando melhor, seriam vários balões.

E hoje, eu quero correr para sentir meus pés com todos os dedos e unhas que às vezes não tiro o canto. E que minha mãe reclama muito disso. Quero que minhas pernas se cansem, para que eu sinta quanto é importante que elas tenham saúde de pele, músculo e alma. E que quando eu estiver correndo, me deixem gritar, girar, acelerar, parar, olhar o sol, cantar uma música errada e conjugar o they are ao invés de are they.

Assim:

Quando a noite chegar, quero agradecer ao meu Deus, que não é teu. E melhor, nem meu, mas sim no que eu acredito. E crer é poder. Então minha oração não precisa de forma, às vezes peço calado, chorando, molhado no chuveiro ou pelado pela casa. Não tem rito nem mito. Só fé. A minha fé.

Tenho aprendido que viver é apenas um dia com muitas horas.

Porta



O tempo é uma porta aberta entre o agora e o instante.

foto por: Thainá.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

...

Neste fevereiro
Ando calado
Nem com as palavras
Tenho conversado

Às vezes 
Fico sabendo de algo
Que vem como um grito
Em silêncio

Que dói e passa.